Mix Growing, Love and Respect

Ela está zangada, furiosa até mas lá estão eles nervosos a discutir em voz baixa, ela a ouvir o outro e a tentar que o outro a ouça.
"Não voltes a...", "Escolhe entre" saltam-lhe no pensamento enquanto falam. Quase que tem de as sufocar para não lhe fugirem.
Ultimatos são um caminho tão fácil numa discussão. As vozes crescem e termina-se com um: My way or the highway. Deixa de ser responsabilidade nossa resolver o quer que seja que tenha causado a discussão.
É tão fácil. Ela conhece esse caminho, eu sei. Porque é que não o usa?

Sofia

Cansada, farta de ouvir os queixumes do costume e de discutir tempos infinitos e de se sentir presa a uma vida que não era aquela que imaginara para si aproveita um momento mais aceso na discussão para por fim aquele relacionamento asfixiado. No fundo nem Sofia sabia se queria manter aquela decisão. Precisava de gritar ao mundo a sua frustração. E naquele momento em que desligou o telefone e cortou com aquela distância e ficou com distância alguma sentiu-se livre. No fundo não levara muito a sério o que dizia, mas as palavras galadas que tinha vindo a ouvir a ecoarem-lhe nos ouvidos davam-lhe força p manter aquela decisão. A vontade de experimentar novas coisas e de ter uma vida nova também pesavam . E cada vez mais o que tinha pensado antes e o que pensava depois fazia sentido e lhe parecia que a decisão cobarde, impensada, irreflectida era a decisão mais acertada que tomara.

Gosto

Já faz muito tempo desde que senti o teu gosto a entranhar-se-me na pele. Pelo menos a mim parece-me muito tempo. Já não me consigo lembrar bem dos teus lábios a tocarem nos meus. Mas ainda oiço as nossas palavras duras, as lágrimas seguras por fios de raiva e ódio. Os espaços de silêncio gordos da agressividade. As tuas costas livres enquanto abrias a porta... Porque é que já não me lembro do teu gosto?

Lembrei-me que

Gostava de te peneirar e ficar só com o que é bom.

O peito vazio mais pesado do que alguma vez senti.
A cabeça cheia com ideias à guerra sem me deixarem perceber o que estão a dizer.
O nó na garganta que não desaparece e não me deixa falar.
Os olhos afogados que não vêm quem está perto.

Estás tão perto e sinto-te tão longe.
O que é que nos afasta?

You are so beautiful

Com os corpos febris colados sinto a respiração dela desacelerar e a tornar-se mais pesada.

Ouço-a ainda a cantar, quase em surdina, palavras de outros que dizem o que ela sente por mim.

Adoro deixá-la adormecer e vê-la assim, cabelo desalinhado, maquilhagem derretida, rosto tranquilo... entregue a mim, ao sono e ao sonho que a abraça também.

Descontraio e deixo-me levar também pela sonolência que está a chegar.

Sorrio porque sei que daqui a pouco vou acordar quando ela se mexer ou ela quando o sono a soltar do meu abraço. E sorrio porque sei que de cada vez que acordamos nos voltamos a perder um no outro, com um carinho, um beijo, um sorriso, um sussurro. Sorrio porque sei que de manhã ainda vou ter o calor dela junto a mim e um novo dia cheio de nós vai começar com o sorriso terno dela.

Sentir os grãos de areia a colarem-se aos pés, às mãos, pelo cabelo misturados com o sal..
Sentir o calor tão forte que parece que a pele não aguenta mais.
Sentir o gelo da água nos tornozelos e nem assim apetecer parar e seguir sempre até se ouvir a conversa do mar durante o mergulho.
Sentir o silêncio e as gargalhadas e as raquetes.
Sentir a brisa quente a passar entre as gotas de sal que ficam na pele.
Sentir a tranquilidade de não ter segundos contados pelo relógio.

Sentir o vazio do tempo.

Sentir-me em férias :)