domingo, 12 de abril de 2009

Intercidades e eu

Pela primeira vez em muito tempo senti o calor de estar em casa e foi quando o primeiro vento gelado de Outono me fazia tremer na ansiedade de ver o comboio chegar. Sentir-me em casa preencheu-me o peito de algo bom que logo contrastou com a lembrança da partida. Já ouvia o comboio chegar quando me levantei e fiquei sem saber se o conforto do calor de passar aquelas portas ia ser superior ao conforto que me preenchia sentir o vento a passar por mim.Nem se pode chamar vento. Era uma brisa suave e gélida que entrava por cada frincha do casaco e da camisola e se entranhava na nossa pele lembrando o sítio onde estava. Recordações que vêm desde a infância associadas a esse arrepiar de pele e que marcam casa como casa, como porto de abrigo, como porto seguro. Os primeiros dias de escola e as caminhadas com os amigos até lá, as dores de pés das botas novas compradas para esse Inverno por as antigas não servirem, o voltar para trás para alguém nos abotoar o casaco antes de sairmos de casa. Os balanços do comboio ajudaram à nostalgia assim como as luzes que insistiam em fugir de nós. Encostei a cabeça ao vidro e deixei o pensamento me levar.Não me senti só em casa, senti-me tranquila. Já há alguns dias que me isolava em mim à procura da minha estabilidade e tranquilidade reflectindo em mim e no que me disseram, fizeram, aconselharam. Sentindo a presença de todos através da ausência que quase impus e que todos fizeram questão de quebrar esporadicamente.Mas inevitavelmente este meio ano tinha de me mudar como pessoa e mudou tanto e tão rápido que estou com dificuldade em me encontrar no meio do turbilhão que anda à solta no meu peito. À descoberta de mim junta-se a descoberta de novas experiências numa envolvência nova em tudo o que a pode caracterizar.O que me torna não só em descoberta como em mutação o que dificulta a descoberta e muito mais a tranquilidade que insiste em ser estranha. Por isso foi uma sensação tão difícil de abandonar ao vento da estação.

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